Batatinha quando nasce

No inverno do ano passado misturei algumas cascas e folhas secas num vaso grande em que tenho um pé de louro, pra servir de adubo quando chegasse a primavera. Uns meses depois, começou a crescer alguma coisa junto do louro, e fui observando a folha. Era batata-doce.

Provavelmente algum pedacinho de casca que joguei resolveu virar uma planta nova em vez de se decompor. E eu teimei junto com a planta. Joguei água, guiei as ramas das folhas que vinham, ia deixando aquela planta crescer.

Depois de um ano, era hora de podar e adubar de novo – esse ritual corriqueiro de inverno de quase todo mundo que resolve ser jardineiro. E aí decidi que era hora de cavucar pra chegar nas batatinhas.

Eu sei, não vai matar a fome nem nada, mas tem tanta coisa bonita que eu experimentei ao ver essa batatinha crescendo que me sinto alimentada. Penso na relação diferente com a jardinagem, que as vezes deixa a gente com tanto medo de matar as plantinhas, mas se mostra ali quase uma coisa inexplicável de tão viva. No jeito diferente de perceber o lixo, que pode ser aproveitado nos vasos, mas tem tanto valor que pode se transformar numa nova planta e em alimento. Na resiliência da casca, no tamanho do ciclo pra se produzir uma batata – lá se foi um ano! Na mão suja de terra procurando as batatas e as unhas pretas, que me lembraram que plantar dá trabalho e é bem diferente do que se vê no supermercado. No querer muito cozinhar também as folhas – elas são uma PANC incrível, macia, saborosa – porque você não quer perder nada dessa experiência assombrosa de ter conseguido produzir uma batata-doce, umazinha que seja, num vaso em casa.

Insistir em ter plantas comestíveis em casa é das coisas mais gratificantes e poéticas que consigo pensar.

Como era pouca, assei junto com outras batatas-doces compradas, temperadas com curry, sal e azeite. Separei as batatas que nasceram aqui em casa pra saber quando comesse – estava curiosa. É claro que a minha batata era a mais macia e a mais gostosa. A grama do vizinho não é mais verde.