Quiabo de metro

Ouvi falar a primeira vez do quiabo de metro muitos anos atrás, em uma feira na cidade de Conceição da Barra/ES. Minha avó havia visto numa barraca e sempre falava dele como uma curiosidade, uma pequena descoberta que chamou a atenção dela.

Desde então eu fiquei interessada – primeiro porque adoro quiabo, e depois porque eu tô sempre curiosa com coisas diferentes de comer. Mas até então nunca havia conseguido encontrar pra prová-los.

Por um acaso esses quiabos apareceram uns meses atrás aqui na feira em Pato Branco/PR e nem pensei duas vezes antes de levar pra experimentar.

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Um quiabo de metro: são realmente compridos. Esse da foto era aproximadamente do tamanho do meu braço

A primeira coisa que percebi quando cortei é que esses quiabos não se pareciam quiabos nem parentes deles. Quando cortados, o cheiro que sobe lembra pepinos ou melão. E quando fui pesquisar sobre eles, era isso mesmo: são cucurbitáceas. A planta que produz esses frutos verdes compridos e rajados – que podem mesmo ter em torno de 1 metro – é uma trepadeira, com folhas que se confundem com outras da mesma família, mas um flor muito distinta, branca, graciosa e com várias pequenas franjas.

O gosto cru lembra muito um tipo de pepino mesmo, porém mais saboroso e menos aguado. Porém, quando cozido, ele lembra mais uma abobrinha italiana. Não tem nenhum tipo de baba – que o nome quiabo poderia sugerir. É ligeiramente oco no meio com várias sementes grandes e achatadas (como as de abóbora) que também são comestíveis. A textura e macia, esponjosa no centro, e a casca é firme.

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A parte interna do quiabo de metro: ligeiramente esponjoso com algumas sementes – que, especialmente quando o quiabo está bem verde, também podem ser comidas

Outra coisa que chamou a atenção é a durabilidade do legume. Você pode esquecê-lo uns 15-20 dias dentro da geladeira que ele permanece inalterado – tanto em aparência quanto textura.

Na verdade o nome “quiabo de metro” é muito curioso porque, como se vê em toda essa minha descrição, a planta não lembra em nada o quiabo.

É uma planta exótica (ou seja, não é originária da América do Sul ou do Brasil), que é consumida há muito anos no seu local de origem, o sudeste asiático.

Nós fazemos uso de muitas plantas dessa família em todo o mundo. O livro The Nature of Crop, do botânico John Warren, conta que existem indícios de que as cucurbitáceas foram domesticada por grupos humanos em diferentes continentes ao mesmo tempo, o que é raro. Nossa relação com essa família de plantas como comestíveis é das mais antigas, e tem a ver com a facilidade de polinização.  Em locais secos, como o deserto da Kalahari, essas espécies eram valiosas como fontes seguras de água (a melancia é originária de lá). Mas há também resquícios do uso ornamental das cabaças secas no Antigo Egito ou na Papuá Nova Guiné. E como são muitas as espécies de cucurbitáceas que são comestíveis e consumidas, muitas vezes os nomes são imprecisos ou repetitivos, e geram alguma confusão mesmo. Outros nomes pro quiabo de metro são cabaça-cobra ou abóbora-jibóia.

Uma curiosidade sobre esses “quiabos” é que pra ficarem cumpridos usa-se colocar pesos na ponta deles. O normal é que eles se enrolem, como este daqui na foto.

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O quiabo de metro deve ser colhido verde, e ainda jovem. É preciso ficar atento na hora de colher, pois ele vai ficando fibroso e um pouco duro pra mastigar. Nesse caso, o melhor é deixar pra colher quando eles estiverem mesmo maduros – eles ficam avermelhados, e a polpa amolece. Podem ser usados para fazer algo semelhante a um molho de tomates.

Por enquanto, nossa receita favorita foi com eles grelhados, pra servir com molho de tahine com limão. Mas no ano que vem, agora que salvei algumas sementes pra plantar, espero experimentar outras ideias.