Cará Moela e o caminho de generosidade da natureza

Parece uma pedra mas esse é o cará moela (Dioscorea bulbifera), um dos raros tubérculos que não nascem enterrados mas aéreos, pendurados na planta. Por conta da forma como nasce ele também é conhecido como cará do ar. Tem um gosto que lembra a batata comum (que de inglesa não tem nada, é originária das Américas), porém é mais firme, e não tem aquela viscosidade (a famosa baba) como a maioria dos carás e inhames – só um pouquinho, que a gente nota principalmente quando ela está crua. Ótima pra todo tipo de preparo que você precisa que as batatas não sugem muita água ou se desmanchem (cará moela frito e nhoque de cará moela eu ouvi um amém?)

Além do gosto incrível e dessa firmeza e secura interessantes, a planta em si também é simpática. Os carás-moela são gentis e avisam quando estão pronto para serem colhidos: eles se soltam fácil do pé com o mínimo toque ou chegam a cair no chão. Também nos avisam a hora de plantar: se você largar um na sua cozinha, ela costuma brotar e é uma boa hora de botar na terra pois é assim que se consegue uma muda deles. É um trepadeira que toma conta de cercas e árvores, formando baraços gigantescos em qualquer árvore que encontra pelo caminho – pense em chuchu pra entender do que estou falando. E ao contrário das batatas, suas parentes assemelhadas no gosto (mas não na família de plantas – as  batatas são solanaceas, já o cará moela é uma dioscoreaceae, ou seja, mais próximas dos outros carás mesmo) elas são fáceis de serem produzidas.

Por conta da seleção que fomos fazendo, batatas costumam precisar de muito agrotóxico pra poder vencer brocas, fungos e outras pragas e chegar até nossa mesa. O cará moela é uma opção interessante também por isso: é uma planta rústica, resistente, com um número muito menor de pragas atacando.

cará do ar

Entender como funcionam as plantas que comemos é interessante porque dá a dimensão de como as vezes a gente insiste em coisas que não dão certo.

A Carol Costa do Minhas Plantas tem um post sobre jardinagem sobre a dificuldade de fazer uma planta ficar viva e bem. Ela conta que toda semana recebe uma quantidade de mensagens narrando que é a 5a. vez (ou 6a, 7a…) que tentam cultivar, por exemplo, lavandas, mas elas sempre morrem. O que fazer nesses casos? Longe de ficar com a resposta comum – o problema é a falta de “dedo verde” – a Carol nos convida a pensar sobre a adaptabilidade dessas plantas. Talvez elas não sejam adequadas pra sua casa.

E a mesma coisa vale pras coisas que comemos. Já pensou que tem mais ou menos as mesmas coisas no mundo todo? Será que isso é possível ou vamos sempre precisar de artifícios pra isso funcionar pra climas e lugares tão diferentes?

Ela diz: “Quando a gente deixa de impor nossa vontade, a natureza se revela em toda sua generosidade, mostrando mil outras verdinhas para você. Pode ser que seu jardim já esteja até sussurrando alguma plantinha no seu ouvido. Pense antes de sair plantando: o que cresce que nem mato na sua casa? O que vai como chuchu na cerca, mesmo que você não cuide? Esse pode ser o caminho para você e seu cantinho verde fazerem as pazes e começarem de novo, mais fortes”

Vale pro cará moela x batata, pras plantinhas dentro de casa, mas também poderia ser pra muitas outras coisas na nossa vida.