Mel de caju

Nessas férias de julho passei alguns dias na praia de Aquiraz, ao lado de Fortaleza, e aproveitei pra passar um dia na capital do Ceará atrás, obviamente, de comida.

Uma das coisas que trouxe e fiquei apaixonada é o mel de caju. O gosto lembra muito o da cajuína – a bebida típica de origem indígena feita de suco de caju clarificado, que é muitíssimo consumida nos estados do Ceará, Maranhão e Piauí, e que inclusive seu processo de produção tradicional está registrado no Iphan como Patrimônio Cultural Brasileiro. O mel de caju, porém, é mais concentrado que a cajuína, e por isso bem mais escuro e espesso.

A produção do mel tem um processo parecido com a cajuína em algumas etapas – é extraído também o suco do caju, que depois passa por cozimento e redução que provocam a caramelização dos açúcares da fruta até se transformar num melado. O rótulo informa que não tem adição de açúcar – assim como a cajuína tradicionalmente também não tem.

mel de caju
Garrafinha de mel de caju trazida de Fortaleza

A produção de caju é toda muito voltada pra extração da castanha, e os frutos nem sempre são aproveitados. O mel de caju, e também o caju passas e outras produções feitas com a fruta são consideradas uma espécie de subproduto apenas, já que o valor comercial da castanha é muito superior a ele, mas é fino, versátil e delicioso.

Fiquei pensando muito sobre essa desvalorização quando entrei em um supermercado em Fortaleza (é um ‘tour’ que faço em cada cidade que vou pra entender o que tem na vida cotidiana média daquele lugar) e me deparei com várias garrafas diferentes de suco de uva da Serra gaúcha. É uma pena que a gente não tenha cajuína nem mel de caju ou caju passas chegando aos mercados das demais regiões, assim como as garrafas de suco de uva transitam pro Nordeste. Cajuína é uma bebida tão saborosa, com uma herança cultural riquíssima. O mel do caju, que em tanto lembra a cajuína, também tem um potencial imenso de se tornar mais conhecido e popular no país, ainda mais se a gente considerar o volume de produção atual da fruta (e do desperdício que ainda ocorre).

Carla e o caju
Eu, claramente uma apreciadora de caju

A gente dá muita atenção às frutas que não são nossas, enquanto pouco valorizamos algo que temos em abundância, e que pode ser transformado em algo com um paladar tão sofisticado que não tem nada a dever a nenhuma calda importada de maple syrup.

O mel de caju dá pra ser servido junto do iogurte natural, como uma calda regando frutas picadinhas de sobremesa, serve pra comer com queijo (como se faz com o melado de cana), regando panquecas entre outras preparações. E pra quem pensa que o mel de caju só vai bem com receitas doces, digo que como nunca fui grande entusiasta da confeitaria, resolvi usar o mel de caju como um molho de salada, e estava certíssima de fazer isso:

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Salada de quinoa com cubos de cenoura cozida, passas, cubos de batata yacon, tomilho fresco, uma pitada de sal e mel de caju

SALADA DE QUINOA COM MEL DE CAJU

1/2 xícara de quinoa
1 cenoura
2 colheres de uvas passas
1 batata yacon pequena
Ramos de tomilho fresco
Sal
Mel de caju

1. Cozinhe a quinoa por cerca de 10-15 minutos, até que ele fique al dente;

2. Enquanto isso, cozinhe também a cenoura. Descasque e corte em cubos pequenos;

3. Com uma faca, raspe a casca da yacon para retirá-la e em seguida pique em cubos do mesmo tamanho que as cenouras. Jogue algumas gotas de limão por cima, pra que ela não escureça rapidamente;

4. Misture a quinoa cozida com a cenoura e a yacon picadas. Acrescente algumas passas e folhas de tomilho fresco e uma pitada de sal a gosto – a ideia não é salgar e sim realçar os sabores;

5. Por fim, regue por cima com o mel de caju. É uma salada de sabor delicado e adocicado, perfeita para acompanhar folhas mais neutras ou azedas.