Criação com flores de sempre viva

Tenho gostado de criar coisas com elementos naturais que estão aqui em volta. Eu não sei bem o que estou fazendo, só estou seguindo o fluxo do que ando percebendo, e me permitindo brincar com o que me interessa.
Eu colhi essas sempre-vivas na estrada onde caminho ainda em setembro. Tive o cuidado de escolher as flores ainda fechadas – durante o processo de secagem, elas continuam a evoluir e abrir, e podem soltar as sementes – o que faz perder uma parte da graça. Ajeitei elas em molhos, fazendo uma grande pilha com as folhas descartadas e deixando as mãos completamente sujas, e dependurei pra secar num cantinho escuro do meu escritório-ateliê. Foram dois meses aguardando esse processo, mas talvez pudesse ser menos se eu tivesse menos dúvidas se era importante fazer. – mas certamente dava pra ser menos.

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As flores recém colhidas, volumosas, galhos com folhas….
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…e aqui já sem as folhas, ajeitadas em molhos amarrados com elástico, prontas para serem dependuradas de cabeça pra baixo para passarem pela secagem.
Fiz um pequeno tratamento com spray de cabelo para fixar os miolos sem soltar as sementes e costurei cada flor numa peneira. Quando terminei, quis colocar na cozinha e fui repensando o propósito de alguns objetos que já tinha pra colocar em conjunto.

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Os materiais pra trabalhar, depois de 2 meses de secagem…

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…e as flores sendo costuradas uma a uma depois de processadas
Eu não sei direito de onde vem esse sentimento, mas eu sinto como uma vergonha me interessar e fazer coisas pequenas, íntimas e sem propósito, como se só tivessem valor coisas grandes. Eu me sinto uma contradição porque são as pequenas coisas que me atraem e eu sinto que, já que sou assim, jamais serei capaz de fazer as coisas grandes com as quais acho que deveria me engajar. Eu me interesso por coisas óbvias porque tenho uma aversão a coisas que são cifradas e que são necessárias quilos de referências – elas me fazem pensar que eu preciso carregar uma mala pesada pra simplesmente estar lá e ter direito de participar.
Eu gosto do óbvio porque ele está lá e assim mesmo você pode não ver. É uma mala leve, tão leve que você as vezes você deixa de enxergar.

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O resultado na parede da minha cozinha
Enquanto estou no processo de criação eu me sinto bem, mas quando eu termino me vem essa enxurrada de vergonha. Talvez porque eu não sei bem o que estou fazendo. Tenho me aberto pra importância de alimentar quem nós somos com coisas sem propósito, sem impor uma censura utilitarista a priori. Fazer porque encanta, porque se sente tocada, porque quis. E eu tenho que admitir que sou essa pessoa das pequenezas.
Ontem eu comecei a trabalhar em um galho mais volumoso de uma árvore que caiu na frente da minha casa. Ela estava cheia de líquen e foi isso que me atraiu de início, mas percebi que ia soltar muitos farelos e resolvi tirar a casca. Lixei. Gosto do que está se revelando. Senti como se fosse um tipo de brincadeira, me senti muito bem apesar de achar uma coisa boba. Estou atenta às coisas que estão à minha volta, coisas muito pequenas que vou percebendo no meu caminho. Eu não preciso saber muito bem o que estou fazendo.