
Como fazer brotos de lentilha

Uma amiga me escreveu contando que a sua filha Alice, de 6 anos, resolveu que não vai mais comer carne — exceto no molho a bolonhesa.
Fiquei com uma imensa simpatia pela menina, não porque agora esteja vegetariana como eu, mas porque achei bonita essa ideia de estar aberta ao novo, mesmo tendo aqui e ali alguma falta de convicção ou excesso de amor por certos tipos de molho de macarrão.
Ser vegetariana, pra mim, tem mais a ver com fazer perguntas do que com certezas e convicções arraigadas. As coisas não tem de ser como são porque são. Podemos nos comprometer apenas em fazer tentativas, duvidar que as coisas sejam imutáveis, e descobrir outros sabores. E abrir exceções pro que a gente achar que precisa abrir, porque o mais importante nunca foram as certezas e sim como conseguimos formular nossas dúvidas.
Fiquei com vontade de que essa ideia tão bonita da Alice pudesse fazer brotar por aí essa simpatia pela pergunta, e por isso, resolvi compartilhar como se faz pra germinar lentilhas. Germinar lentilhas faz a gente voltar a se sentir um pouco Alice: nosso compromisso é o de brincar de ver os grãos se transformarem em plantas. E não precisa de equipamentos ou ingredientes especiais, nem de trabalheira, só um pouco de presença e vontade:
COMO FAZER BROTOS DE LENTILHA
- Coloque uma xícara de café de lentilhas de molho em água por umas 8h (da noite pro dia). Uma xicrinha, acredite, vai render um monte;
- Pela manhã escorra a água e deixe num vidro inclinado coberto com um filó, tule ou um pano qualquer bem poroso. Eu deixo o meu no meu escorredor de pratos mesmo;


Em +ou- 24h depois do início do processo, os grão já apontaram um narizinho (é a raiz) e são comestíveis crus. Eles ficam como na foto que abriu este post. Em 3 dias, eles terão uma folhinha, e é o limite pra você comer.
O mesmo processo também dá pra usar com grão de bico, se você quiser experimentar mais. Gosto de misturar com outros ingredientes crus, criando saladas e combinando sabores.
O gosto não se parece com os brotos que compramos no supermercado, especialmente porque você não tem ideia da delícia que é ver a sementinha brotar, a raiz crescer, a primeira folha sair. Sem contar o efeito colateral: ver como é fácil deixar as coisas brotarem me faz ter vontade de que as coisas continuem germinando por aí.
É escritora, cozinheira de ideias e naturalista amadora. Desde 2016 mantém o OutraCozinha, projeto em que investiga o que o comer diz sobre nós.