
Bolo de banana com puxuri

Eu fiquei conhecendo o puxuri na viagem que fiz em julho de 2019 pra Belém. Foi numa banquinha de raízes e garrafadas do Ver o Peso. Não estavam aparente e nem era óbvio pra mim, eu tive que perguntar entre outros feirantes onde é que eu ia achar isso. Levei não só puxuri mas também uma outra especiaria – cumaru ou fava tonka, outra semente que pode ser usada como especiaria, com gosto que lembra amêndoa.

O puxuri é uma semente da região amazônica e tem um cheiro que mistura cravo, anis estrelado e um fundinho de cardamomo. Ela tava nessa banca porque tradicionalmente é usada como remédio, uma espécie de calmante do estômago e do espírito – é ótima pra fazer dormir. Quando você põe um pouquinho de puxuri puro recém-ralado na boca, você sente uma sensação de anestesia que não é muito diferente da que se sente com a noz moscada – porque ela também tem propriedades anestésicas. Mas com esse aroma tão especial ela também pode ser utilizada na gastronomia, embora ainda seja pouco conhecida.

Mas não precisa desanimar se você não for da região norte, não é preciso ir tão longe pra achar Puxuri (embora eu recomende pra quem pode, que viagem incrível que eu fiz em Belém). Estive na zona cerealista em São Paulo em novembro e vi pacotes imensos de 250g, 500g e até 1kg sendo vendidos nas casas especializadas em ervas. Mais uma vez, me veio a impressão de que ela é mais lida como medicina popular do que como especiaria, mas me deu menos trabalho de encontrar do que em Belém. Talvez a essa altura eu já estivesse mais íntima.
Bom, mas a minha relação com puxuri acabou ficando mais intensa porque eu adotei dois gatinhos pretos irmãozinhos no último mês, e um deles acabou recebendo esse nome (a irmã se chama Amora). É essa criatura aconchegante aqui:

Então é uma desculpa meio boba mas eu resolvi fazer esse bolinho simples pra comemorar 1 mês da chegada do Puxuri e da Amora (no próximo mês a receita é da gata). É um bolo vegano – sem leite e sem ovos -, surpreendentemente fofinho porque leva gérmen de trigo, e tem pouquíssimo açúcar – tanto que recomendo comer com uma colherada de mel ou de melado. É uma adaptação de uma receita que encontrei nesse livro de Cozinha Vegetariana, da Caroline Bergerot (que é muito bom):

BOLO DE BANANA COM PUXURI
2 xíc de farinha de trigo
1 1/2 xíc de gérmen de trigo
1 col de chá de sal
4 col de sopa de açúcar mascavo
1/3 de xíc de óleo
2 xíc de água
1 semente de puxuri ralada
1 col de sopa de bicarbonato de sódio
1/2 col de sopa de suco de limão
Cerca de 6 bananas cortadas em rodelas não muito finas
1. Misture primeiro os ingredientes secos: as farinhas, o sal, o açúcar e o bicarbonato (Uma observação: o bicarbonato + limão pode ser substituído por 2 colheres de sopa de fermento químico comum, mas eu sempre uso bicarbonato e explico nesse post);
2. Rale sobre a mistura uma semente inteira de puxuri em um ralo fino, como você faria com uma noz moscada. Misture;
3. Em seguida, acrescente os líquidos: o óleo, a água e o suco de limão. Misture com uma colher de pau, não é preciso fazer movimentos vigorosos;
4. Unte uma forma com óleo e farinha e pré-aqueça o forno na temperatura média;
5. Despeje a massa na forma e pique as bananas em rodelas. Elas devem ser dispostas cobrindo todo o bolo, como na foto;

6. Asse por pelo menos 45 minutos. Pra saber a hora certa de tirar do seu forno, espete um garfo e veja se sai limpo;
7. Como o bolo é muito pouco doce, sirva junto um pouco de mel ou melado, à gosto. Aprecie o aroma doce e intenso do puxuri.

É escritora, cozinheira de ideias e naturalista amadora. Desde 2016 mantém o OutraCozinha, projeto em que investiga o que o comer diz sobre nós.