Alimentação natural para gatos: um relato

Gatinho comendo comida natural

A cada 3 semanas, eu tenho uma tarefa um pouco diferente na cozinha: preparar a comida dos meus gatos. Já tem 6 anos que preparar a comida deles faz parte da minha rotina, o que não quer dizer que seja exatamente uma coisa fácil. Resolvi compartilhar um relato sobre minha experiência na transição da ração pra Alimentação natural dos meus gatos e como tem sido essa vivência.

Existe uma dificuldade grande de fazer essa transição no caso de felinos que vale a pena ser discutida. É diferente também a gente saber que existe essa possibilidade alimentar e entender como é de verdade a vivência. Acho que essa experiência tem me proporcionado insights não só sobre nossa própria relação com a comida, mas também sobre comportamento, rotina e nossa percepção dos animais.

Gata farofa
Senta que lá vem a história!

COMO FIQUEI CONHECENDO A ALIMENTAÇÃO NATURAL PRA GATOS

Lá por volta de 2011, eu tinha um gatinho chamado Tutu. Ele ainda era jovem, tinha pouco mais de 1 ano, mas começou a apresentar um monte de problemas de saúde. Tutu tinha infecções urinárias de repetição, e também anemia por conta da micoplasmose felina, uma doença que ele adquiriu por infestação de pulga antes de ser adotado, e que ia e vinha regularmente. Além do incômodo que o gato sentia, ele costumava fazer muito xixi fora da caixa, já que quando ele urinava devia sentir dor. Estava muito provavelmente fazendo xixi fora do lugar pq associou a dor sentida ao lugar, a caixinha de areia.

Diante do quadro, o veterinário recomendou que fizessemos uma penectomia – uma cirurgia pra amputar o pênis do gato – pra evitar que ele tivesse novas infecções. Eu achei um absurdo. Era como se eu chegasse no médico reclamando de dor na perna e ele sugerisse que eu cortasse então a perna fora.

Foi então que, por conta própria, comecei a estudar e pesquisar em artigos científicos sobre as cistites e o que poderia fazer, enquanto procurava um novo veterinário. Cheguei num pesquisador da USP que era referência – ele aparecia citado numa diversidade de outros artigos e teses -, e descobri uma síndrome chamada Doença idiopática do trato urinário que se parecia muito com os achados dos exames. O tratamento: enriquecimento ambiental e mudanças na alimentação. Mas isso não significava trocar a ração comum por ração renal. Alguns pesquisadores apontavam que uma troca mais radical poderia ter muito melhor impacto. Foi a primeira vez que eu ouvi falar de Alimentação Natural (AN) para gatos no modelo BARF (Biologic Apropriated Raw Food, ou Comida Crua Biologicamente Apropriada).

Ingredientes da alimentação natural para gatos
Ingredientes que fazem parte da Alimentaçao Natural dos gatos, antes de serem processados. Tudo é bastante familiar

O QUE É A ALIMENTAÇÃO NATURAL (AN)

O modelo BARF de alimentação olha pro sistema digestivo dos animais domésticos – sejam eles gatos ou cães – pra oferecer um alimento in natura da maneira mais parecida com o que ele teria se vivesse uma vida não domesticada.

Felinos, por exemplo, são carnívoros. Isso é visível pelos caninos proeminentes, mas também pelo comprimento curto e as estruturas do sistema digestório. A observação da biologia também impacta no modo como servimos os bichinhos. Como são animais predadores, dá pra inferir que o organismo deve estar melhor preparado pra fazer uma ou duas refeições no dia, quando conseguiriam abater uma caça, e não ter comida sempre disponível. As pequenas presas abatidas – pássaros, pequenos lagartos, pequenos roedores, alguns insetos como grilos ou borboletas – seriam comidos integralmente, incluindo penas ou o conteúdo dentro dos seus estômagos, o que também tem que ser levado em consideração na hora da montagem das refeições.

Gato felois
A boquinha felois é do gato Croquete

Existem várias propostas de formulação desse tipo de dieta. Elas incluem carnes, geralmente cruas, que podem ter ossos ou não. No caso em que ossos são incluídos, eles devem obrigatoriamente ser servidos crus, pois ossos cozidos é que causam riscos de engasgar. Também inclui vísceras, e uma porcentagem pequena de legumes e folhosas, que geralmente são servidos cozidos e em purê, simulando o conteúdo do estômago das presas e aumentando os nutrientes disponíveis. Também é aconselhado prestar atenção a algumas suplementações. Por exemplo, na natureza o felino comeria a carne mas também beberia o sangue. Então alguns micronutrientes podem ficar faltando se oferecemos somente a carne. Se o animal não se adapta a comer os ossos – gatos que antes comiam ração podem ter bastante dificuldade – também é preciso prestar atenção pra suplementar o cálcio e o tutano que ele vai deixar de ingerir.

Por isso, é uma dieta que se aproxima mais do que o corpo deles está biologicamente preparado não só em termos de nutrientes, mas também da vivência. Porém, não tem como contornar inteiramente a artificialidade da vida domesticada que nossos companheiros felinos e caninos levam. Como dá pra percerber, também é muito diferente de oferecer restos de comida. É algo que é possível, mas que deve ser feito com alguma atenção e cuidado.

Gato selvagem
Felinos em seu habitat natural: um quintal com um pouco de mato, e um pouco de civilização

COMO COMECEI A INTRODUZIR A ALIMENTAÇÃO NATURAL

Pouco tempo depois de chegar à ideia da AN, encontrei uma veterinária nova que chegou num diagnóstico apropriado: Tutu tinha FELV, e esses quadros de anemia e sensibilidade na bexiga apareciam por conta da debilidade que a leucemia causava no corpinho dele. Eu tentei comprar um pouquinho de fígado de frango e simplesmente oferecer, cru e cozido, mas ele nunca se interessou. Como ele rapidamente teve uma piora, o que ele comesse era motivo pra gente ficar feliz, então nunca tentei insistir, não valia a pena esse desgaste. Mas a ideia ficou comigo.

Família de humanos e gatos
Pouco antes da partida de Tutu, a gente se arrumou só pra registrar como era bonita a nossa família de humanos e gatos

Depois da morte dele, adotei outros gatos, e dessa vez, como eles estavam saudáveis, resolvi levar essa ideia um pouco mais a sério. Fiz isso não porque agora eu sabia que gatos podiam ter essa síndrome da bexiga ou qualquer outra doença, mas porque achei a ideia interessante. Se eu mesma não estava muito interessada em comer comida industrializada, qual o sentido de achar que aquela era a única forma de alimentar os meus gatos?

Nessa etapa foi que cheguei até o Cachorro Verde, site que está no ar desde 2008, feito pela veterinária nutróloga Sylvia Angélico e pela designer Vanessa Firmino. O site é uma referência no assunto, e Sylvia tem uma preocupação genuína em trazer informações confiáveis, com fontes científicas, de maneira acessível e muito bem organizadas.

Foi a partir do site que montei a primeira dieta pros meus gatos. E entendi uma das grandes dificuldades com relação à mudança: modificar os hábitos alimentares é uma tarefa difícil pra qualquer um. Mas pra gatos é pra lá de complicado, já que eles são conhecidos pelo gosto pela rotina, e detestam novidades no cardápio.

A própria Sylvia já advertia isso, e explicava que existem razões biológicas pra essa aversão à mudança alimentar. Gatos aprendem durante a infância o que devem ou não comer com a mãe, e depois dessa fase, eles tendem a rejeitar alimentos novos, como uma forma de se proteger.

As marcas de ração, inclusive, se aproveitam disso. Você já reparou que cada marca tem um determinado formatinho dos biscoitos? É que os gatos tendem a reconhecer as formas e são tão neófobos que passam a desconfiar de qualquer diferença? Os formatos chegam a ser patenteados por conta disso. Por isso pode ser tão difícil mudar a marca de ração depois que o gato já se acostumou.

Eu fui sentir essa dificuldade na prática. Fiz inicialmente como tentei com o Tutu, apresentar pedacinhos de carne e ver o que eles achavam, e o resultado foi diferente pra cada gato. Farofa nem deu atenção à comida; Pequi cheirou e se interessou mas logo foi embora; Croquete cheirou, lambeu, botou um pedaço na boca, mas também desistiu.

Eu descobri, então, que se quisesse mudar iria precisar me dedicar a sério ao condicionamento clássico, e os anos que cursei psicologia me ajudariam muito a entender como trabalhar a modelagem de comportamento.

Panterinha
Como domar Croquete, esta pantera selvagem?

MODELAGEM DO COMPORTAMENTO DOS GATOS

Você já reparou que quando uma criança está aprendendo, por exemplo, a usar o vaso sanitário, nós tendemos no início a parabenizar e fazer festinhas se ela consegue reconhecer e avisar a gente de que ela está com vontade de fazer xixi, ainda que ela ainda faça o xixi no chão ou na fralda? E que progressivamente a gente só vai parebenizando por coisas que se parecem mais com o comportamento de fazer xixi no vaso sozinho?

Esse tipo de ação instintiva que a gente tem se chama, na psicologia comportamental, de Modelagem do Comportamento. A modelagem é uma forma que a gente pode criar aproximações sucessivas de um comportamento que a gente deseja que seja emitido usando reforçamentos positivos, o que significa dar recompensas de coisa que sejam apreciadas pela pessoa/organismo.

Com os gatos, a aprendizagem de se comer comida natural envolve muita modelagem de comportamento. E é preciso usar essa aproximação com passos bem pequenos e pacientes. Esse é o grande segredo da introdução alimentar.

Gato contemplativo
O segredo é a paciência, conta o gato Pequi

A questão aqui é entender o que são passos bem pequenos. Você pode introduzir uma novidade achando que não é nada, mas isso ser novidade demais pros felinos. E não tem um mapa de como fazer isso porque essa percepção é variável pra cada um deles. Então é preciso uma atenção e uma boa percepção pra entender como eles estão sentindo as mudanças.

O início do meu processo começou treinando os gatos por 1 semana de que eles, a partir de agora, tinham horário pra comer: uma refeição de manhã e outra à noite. E cada um teria um espaço fixo pra fazer sua refeição. Antes as vasilhas ficavam permanentemente disponíveis com ração e cada gato comia da vasilha que queria. Agora a gente delimitou três espaços próximos, um pra cada gato, mas suficientemente distantes um dos outros. Pra facilitar que eles pegassem a nova rotina, as vasilhas eram servidas numa ordem fixa. O mais ansioso, Pequi, recebia primeiro, e o mais paciente, Croquete, era sempre o último a ser servido. Era uma forma de evitar que um atacasse a comida do outro.

Fazer essa nova rotina sem mudar nada do que era servido era novidade suficiente. Os gatos não entendiam de início que precisavam sentar e comer em vez de lambiscar quando quisessem, e eu precisava estar próxima nos 15-30 minutos que deixava a comida disponível, pra ensinar a nova organização levando o gato pra sua área, se fosse necessário. A verdade é que era estresse suficiente pra mim também.

Só quando esse comportamento ficou bem estável, e os gatinhos comiam as porções porque sabiam que elas seriam retiradas, e passaram a me avisar com cabeçadinhas na perna que era hora da comida, é que introduzi uma outra mudança. A semana seguinte começou com um treino de que regularmente eles teriam patê e não ração seca como refeições. Era uma mudança significativa também. Uma coisa é eles gostarem de comer patês eventualmente. Outra coisa é se acostumar com uma textura específica todos os dias.

Só depois de achar que eles tinham entendido essa mudança e estarem comendo os patês sem deixar sobrar muito é que comecei a introduzir pequenos pedaços de carne misturados no patê, que foram aumentando progressivamente. É por isso que digo que a atenção com os sinais que os bichinhos dão e a paciência com a quanta novidade é muita novidade pros gatos faz muita diferença.

CADA GATO É UM GATO

Dava pra ver que Pequi, Farofa e Croquete tinham diferentes ritmos de aceitação das coisas, como tinha sido diferente lá no início quando apresentei a AN pela primeira vez a eles. Croquete era sempre o mais rápido a se adaptar. A gente percebia que ele rapidamente passava a separar e comer primeiro a carne, pra só depois atacar o patê que vinha misturado. O Pequi, que sempre foi um gato gulosinho, era um pouco mais reticente, mas não deixava tanta coisa no prato. Já a Farofa era sempre mais lenta, e era preciso ser cuidadosa com o tamanho das mudanças.

As vezes a gente alterava a proporção de carne de um jeito que parecia suave pra gente – de 40% de carne e 60% de patê durante uma semana para 50-50%, por exemplo – e a Farofa de repente parava de comer. Aí é que entra a paciência. Era preciso voltar atrás, esperar mais uma ou duas semanas com a proporção anterior, até que a Farofa se sentisse confortável.

A nossa escolha foi por sempre fazer a mesma coisa pra todos os gatos porque nos parecia mais fácil do que fazer uma comida pra cada, de acordo com a evolução que cada um fosse tendo. Mas essa também não é a única resposta.

A gatinha Farofa sempre precisou de um pouco mais de tempo pra se acostumar com as mudanças

Outra tática também foi descobrir que tipo de coisa cada um dos gatos gostava, pra oferecer esses alimentos nas refeições.

Farofa, por exemplo, é uma grande fã de queijos. A gente chegou a oferecer um pouco de parmesão ralado eventualmente sobre a comida como forma de atrair a gata na fase de modelagem. Croquete adorava o iogurte natural que eu tinha costume de fazer regularmente, e as vezes adicionavamos uma colherzinha. Mas o grande trunfo foi ter descoberto o levedo de cerveja, um complemento alimentar em pó com um sabor que lembra queijo. O levedo é encontrado em lojas de produtos naturais, e é bem baratinho. Ele pode ser usado na alimentação humana (uma pastinha dele misturado com azeite e um pouquinho de sal pra passar no pão para humanos é uma delícia) mas foi unanimidade como gostosura entre os felinos.

Alimentação natural para gatos
Essa é a aparência da comida dos bichinhos. Os legumes, em forma de purê, são só 15% do prato, e estão bem misturados com um pouco de carne moida de frango. Por cima, um salpicado de levado de cerveja. Não é bonito, mas é feito com carinho e eles gostam

COISAS BOAS QUE OBSERVAMOS

Até chegarem a comer exclusivamente AN sem ossos, a gente deve ter levado praticamente um ano nesse sistema de modelagem e condicionamento. Mas o comportamento deles ficou muito bem estabelecido e eles se sentiram confortáveis com a mudança. A gente conseguia perceber isso todas as vezes que precisávamos viajar. Nossa única alternativa nesses casos era pedir que um cuidador deixasse ração pra eles, e eles comiam mas voltavam pra AN assim que a gente retornava. E voltavam com gosto, com muito apetite, era incrível de ver.

O pêlo dos gatinhos fica macio de um jeito que nem as rações mais caras grain free conseguem deixar. E diminui bastante a queda. Recentemente com a nossa mudança do Paraná pra Minas passamos quase dois meses alimentando os gatinhos com ração grain free e a mudança foi sensível. Eles passaram a perder muito mais pêlos e também sentimos eles um pouco menos ativos.

Esqueça também o que dizem as embalagens de ração quando falam sobre cocôs menos fedidos. É impressionante como o cheiro é outro e ameniza, e o volume é pequeno. Em compensação, eles fazem muito, mas muito mais xixi – o que é ótimo. E isso sem se interessarem mais em tomar água, é só o líquido da própria dieta.

E ESSA PARTE DE COMPRAR CARNE?

Esse, pra mim, é uma das partes mais sofridas. Entrar num açougue é um programa desagradável, manipular carnes não é das melhores coisas, mas a gente tenta se arranjar.

A gente se organiza pra fazer grandes receitas, que durem pelo menos 3 semanas pros 4 gatos. É uma tarefa que leva em torno de 4h por mês, contando o tempo pra gente comprar os ingredientes. A gente tenta encontrar açougues que vendam a carne já picada da maneira que a gente precisa, pra facilitar nosso trabalho.

Essas porções são congeladas – o congelamento é obrigatório no caso da AN crua como a que eu sirvo, pois é uma profilaxia contra parasitoses da carne. A gente tira as porções do dia na noite anterior, e antes de servir esquenta em banho maria, coisa de 10 minutos, só pra tirar o gelado. O site do Cachorro verde também ajuda na tarefa de elaborar essa logística.

A gente também cozinha alguns ovos nesse meio do caminho, e oferece junto com a comida – é uma recomendação, e a gente acha ótimo porque usamos as cascas dos ovos pra fazer a suplementação de cálcio.

Casca de ovos quebradas que são usadas como suplementação na Alimentação natural
Nós jutamos as cascas dos ovos que eles comem, e depois levamos ao forno e trituramos até virar um pó. Elas são adicionadas à comida deles como suplemento de cálcio

Eu acho que ver o que os gatos comem, diferente da gente alimentar com a ração que é limpa e sem registro real dos alimentos que a compõem além de uma lista na embalagem, me ajuda a colocar em perspectiva que eu estou lidando com animais carnívoros. Que há desequilíbrio por causa da relação que estabelecemos com eles, que faz com que eles tenham uma população numerosa. E é uma forma diferente e muito presente de estar sempre lembrando da importância da castração, e de cuidar de por onde andam os nossos animais.

Outra questão, especialmente agora nesse momento de crise econônomica e inflação dos alimentos, é o custo. Nesses anos anos todos, a AN sempre foi mais barata do que o valor das rações super premium. Dá pra você montar uma dieta com uma variedade de carnes que geralmente são mais em conta, como moela de galinha, bucho de boi, língua de porco ou músculo bovino. Os míudos, que também tem que entrar obrigatoriamente, costumam ser acessíveis. A questão nessa parte é mais ter acesso a eles. No interior era mais fácil encontrar rim, coração de porco e boi, ou baço. Na capital, de um modo geral, é mais complicado, e o fígado é quase sempre a única opção acessível – mas também mais cara.

Alimentação natural para gatos, sem ossos
Essa é a aparência da comida deles antes da gente misturar tudo, pra ficar mais difícil deles catarem partes. Estão visíveis aí coração de frango, fígado, peito de frango moído e o purêzinho de legumes, que dessa vez saiu vem vermelho pois tem beterraba (há outras carnes por baixo)

Pela primeira vez nesses 6 anos, apesar de continuar usando cortes mais em conta, dar alimentação natural se tornou mais caro do que comprar ração grain free (que são geralmente as mais caras). Não deixa de ser uma experiência que, mesmo sendo vegetariana, me faz ter noção do abismo e da inseguraça alimentar a que estamos sujeitos sob esse desgoverno.

Por conta de comprar sempre os cortes mais baratos, as vezes passo por alguns constrangimentos. O açougueiro não entende bem o tipo de corte que eu quero (“cubinhos, picadinho, como estrogonofe”), e já aconteceu mais de uma deles dizerem que não podem picar, mesmo que eu vá nos horários sem movimento, porque é um volume grande pra pouco valor gasto. Mas com jeitinho eu sempre encontrei algum lugar que me atendesse.

COMEÇANDO TUDO OUTRA VEZ

No finalzinho de 2019, depois da partida do Croquete, adotei dois pequenos gatinhos de uma mesma ninhada: Puxuri e Amora. Eles chegaram em casa acompanhados de relatos de problemas alimentares – a pessoa que resgatou disse que a introdução alimentar não estava sendo bem feita, que estavam tentando desmamar os filhotes com pão molhado no leite antes do tempo adequado, pra tentar se livrarem logo dos gatinhos. Nós começamos dando mamadeiras de pet milk, já que eles realmente não conseguiam comer ração, enquanto tratávamos as barrigas cheias de vermes.

Os irmãozinhos Puxuri e Amora

Depois disso os gatinhos foram logo apresentados às carnes. A gente adaptou a comida que preparávamos para o Pequi e a Farofa para filhotes, conforme recomendação, e de início eu partia em minúsculos pedacinhos. Foi assim que fizemos o desmame desses gatos.

Foi muito diferente mesmo essa experiência da anterior. Puxuri e Amora rapidamente aprenderam a comer AN, e eles comiam uma imensa quantidade – era impressionante e uma gracinha de ver o apetite e como era perfeitamente natural pra eles comerem aquilo. Muito diferente dos outros gatos quando foram apresentados a essa comida.

Gato recebendo alimentação natural, com a boca suja
Esse é o Puxuri bebê, com a boquinha suja de carne

Amora particularmente nunca se interessou muito pela ração. A gente começou a oferecer por conta da perspectiva de termos que viajar e não termos outra alternativa. Morar no interior num estado diferente do nosso de nascença sempre fez com que precisassemos fazer isso por períodos longos, e a gente precisava lidar com essa possibilidade. Mas Amora simplesmente não comia nada da ração. Era como acontecia com os outros gatos quando oferecemos alimentação natural pela primeira vez, só que dessa vez o problema era o oposto.

Com a nossa experiência de treino, a gente entendeu rapidamente o que precisava ser feito. É irônico, mas precisei treinar Puxuri e Amora a aceitarem comer ração.

Oferecer esse tipo de alimento a um gatinho filhote é realmente muito mais fácil. Mas essa experiência também me mostrou o quanto com um pouco de paciência e boa leitura dos comportamentos dá pra fazer mudanças, seja qual for a situação. Mas ainda assim, é muito interessante observar o gosto de cada um dos bichinhos. As coisas podem ser mudadas, mas os limites também existem. Cada gato é um gato.

Puxuri é muito bom de garfo, e é atualmente o limpa pratos da casa. Ele é apaixonado pela comidinha caseira, mas até que aceita bem a ração, embora seja visível o quanto o apetite dele diminui. Pequi é guloso e sempre será apaixonado por comida, especialmente sachês. Por isso, de vez em quanto eu dou um pouco pra ele porque a vida é muito curta pra não agradar um gato. Farofa gosta mesmo é da previsibilidade. Amora até hoje nem aparece se a gente está servindo sachês.