
“Dente” de alho poró

Você já se perguntou porque falamos alho poró e não “cebola poró”, já que é mais fácil usar alho poró no lugar da cebola do que do alho?
Bom, basicamente porque esse dente gigante é um dente do alho poró. O alho poró se parece mesmo com um alho.

Quando aquele caule comprido do alho poró fica muito tempo na terra, ele solta em volta dele esses dentes grudadinhos no caule, na parte subterrânea. Isso é a “semente” do alho poró. Uma mudinha nova.
Se você plantar esse dente gigante da foto, vem outro alho poró. E é assim que eles se multiplicam.
A parte comumente comercializada do alho poró é o caule. Mas a planta inteira é comestível: as flores, lindíssimas, são ótimas pra aromatizar e finalizar pratos; as folhas embora sejam mais duras podem ser cortadas e refogadas ou serem cozidas em água e em seguida desprezadas, virando um ótimo caldo; e os bulbos, que são esses dentes, também podem ser usados como se usaria o bulbo do alho. E explica demais o porquê do nome da planta, coisa que as vezes a gente nem se pergunta.

Eles podem ser comidos frescos (acontece as vezes de vir um pequeno dente grudado num caule de alho poró, mas é raro). E podem ser secos antes de comer, como esses que estão nas fotos. Ele tem uma casquinha fina em volta, como um alho, e o gosto se parece com ele também, porém é um pouco mais sutil e delicado, e quando refogado ele tem um pouco mais de umidade e amido e por isso tende a grudar – é preciso atenção pra se fazer.
É raro ser encontrar pra vender primeiramente porque é a forma de reprodução da planta – pro agricultor isso é valioso. Outra razão é que as coisas que chegam até nós são sempre muito pouco biodiversas, tanto no número de especies quanto na forma que consumimos e aproveitamos os alimentos. E a gente para pouco pra pensar no assunto no meio desse redemoinho confuso chamado vida capitalista.
O supermercado cheio de caixinhas coloridas mascara pra caramba o quanto a gente conhece e tem um acesso muito restrito às coisas.
Mas tem sempre umas pistas. O que eu acho fantástico é que se perguntar pelo nome das coisas as vezes é suficiente pra descobrir um caminho de percepção. É tão simples quanto se perguntar o que o alho poró tem a ver com o alho. Que nem criança.
É escritora, cozinheira de ideias e naturalista amadora. Desde 2016 mantém o OutraCozinha, projeto em que investiga o que o comer diz sobre nós.